De volta ao Festival de Berlim, onde brilhou com "Tropa de Elite" em
2008, Wagner Moura mal começou a divulgar "Praia do Futuro" -- filme de
Karim Aïnouz que tem estreia no circuito comercial programada para
maio-- e já está com a cabeça em um novo projeto: a biografia do
guerrilheiro Carlos Marighella, sua estreia na direção, que deve começar
a ser rodado em 2015.
"Esse filme é meu grande projeto, acordo e durmo pensando nisso,
estou completamente apaixonado e enlouquecido com ele. Compramos os
direitos do livro do Mario Magalhães e temos o apoio da familia
Marighella. Quero revelar para o Brasil um sujeito que eu tenho muita
admiração e que é um herói esquecido", explica.
"O Brasil tem isso, por uma questão da memória ou por culpa da
direita ser muito forte no país, não mostrar pessoas que lutaram, que
deram suas vidas pela liberdade, pela democracia. Politicamente, para
mim, é muito importante falar sobre esse cara. E, ao mesmo tempo, ele é
um cara magnético, interessante, forte", conta Moura.
"Estou me cercando de pessoas da minha geração para fazer esse filme,
como o [diretor de fotografia] Lula Carvalho, o [montador] Daniel
Rezende. Acho legal ter o nosso olhar sobre aquela época para essa
galera, que meio que não sabe o que é dedicar uma vida, morrer por uma
ideia, por uma causa. A gente não sabe o que é isso. A nossa geração não
sabe o que é morrer por uma causa", afirma.
Mas antes de rodar o longa, Moura diz que voltará a se encontrar com
José Padilha no fim de 2014. "Ainda não tem data nem título, mas o filme
vai acontecer na tríplice fronteira, entre Brasil, Paraguai e
Argentina. E depois disso vou rodar o primeiro longa do Daniel Rezende, a
estreia dele na direção em um filme sobre o palhaço Bozo", conta.
"Praia do Futuro"
Antes de se dedicar a estes outros projetos, porém, Moura conversou
com o UOL sobre sua atuação em "Praia do Futuro", longa que surpreendeu o
festival de cinema alemão com detalhes da trama que vinham sendo
mantidos em segredo: Moura interpretando um personagem gay e aparecendo
em nu frontal.
Mas o ator diz que "isso não deve ser o principal ponto de discussão
sobre o filme". "Eu acho que a responsabilidade da gente e da imprensa é
levar esse assunto com mais naturalidade. Porque a gente ajuda quando
não faz disso uma questão. E isso é uma coisa muito minha, não é algo do
tipo: 'estamos fazendo um filme que impõe a homossexualidade'. Acho que
a nossa postura deveria ser: tem dois caras e eles têm uma relação, um
cara se apaixona pelo outro cara e eles têm essa relação. Me parece
politicamente mais eficaz do que virar uma história do beijo gay da
novela", diz.
Em "Praia do Futuro", Moura interpreta o salva vidas Donato,
personagem à procura de si e confuso com sua identidade. Depois de não
conseguir evitar uma morte no mar, Donato encontra o amor em Konrad
(interpretado pelo alemão Clemens Schick) e decide deixar tudo para trás
para recomeçar a vida em Berlim, mas ainda precisa lidar com a relação
com o irmão mais novo, Ayrton (Jesuíta Barbosa).
Moura reforça que a questão central do filme é a busca por uma
identidade, e não o homossexualismo dos personagens. "Não só
dramaticamente, mas politicamente essa não é questão em 'Praia'. Poderia
ser um filme sobre uma história de amor de dois caras, mas essa não é
uma questão do filme. Esse é um filme sobre identidade, sobre você. Uma
coisa que me fascina é você ser o que você quer ser. O cara tem coragem
pra fazer isso, mas faz do jeito errado, abandona aquele menino que
tinha ele como pai, não consegue lidar com seu passado".
Para ele, a parte mais desafiadora do longa foi representar uma
figura paterna para Ayrton e os dois atores que o interpretaram. "Foi
duríssimo criar essa parte. O Jesuíta é um doce, o menino pequeno,
também me tinha como referência paterna durante as gravações, ficamos
muito tempo juntos. Tenho três filhos homens, isso sim talvez tenha sido
a maior questão para mim, a questão do abandono, a volta depois quando
ele está mais velho, irado, cobrando".
"Praia do Futuro" tem estreia prevista para 1º de maio.
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